Sete meses depois de os irmãos Lumière inaugurarem o cinema, em Paris, com a primeira projeção do que viria a ser a sétima arte, a cidade do Rio de Janeiro pôde assistir à primeira sessão de cinema do Brasil, mais exatamente no dia 8 de julho de 1896.
Em 1897, Paschoal Segreto e José Roberto Cunha Salles abriram, na rua do Ouvidor, a primeira sala de cinema, “Salão Novidades de Paris”, ficando, para o ano seguinte, a projeção do filme inaugural do cinema brasileiro, rodado por Afonso Segreto, com imagens da Baía de Guanabara.
Cena 1 – Origens
Em 19 de julho de 1898, o irmão de Paschoal Segreto, Afonso Segreto, rodava o primeiro filme genuinamente nacional no Rio de Janeiro. Tratava-se, na verdade, de um documentário, com cenas da Baía de Guanabara.
Ao retornar da Itália, a bordo do navio Brésil, Afonso fez tomadas para o filme que pretendia rodar em solo brasileiro. O primeiro plano cinematográfico mostra o navio entrando na Baía de Guanabara, estreando equipamentos modernos para a época, trazidos do exterior.
A seguir, até 1907, o documentário seria o gênero predominante. Cenas sobre o cotidiano carioca e filmagens de locais como Largo do Machado e a Igreja da Candelária, com o mesmo estilo dos documentários franceses do início do século.
A partir deste ano, diversas salas de projeção foram inauguradas tanto no Rio quanto em São Paulo, fazendo com que o período entre 1908 e 1912 fosse considerado a belle époque do cinema brasileiro. Até mesmo um centro de produção foi criado no Rio, mas logo suas atividades diminuíram, com a entrada de fitas norte-americanas no país.
Para saber como continua essa história, não perca a Cena 2.
Cena 2 – Década de 20
A invasão de filmes norte-americanos no circuito brasileiro, logo no início deste século, não impediu o aparecimento dos ciclos regionais de cinema em Campinas (SP), Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul, na década de 20. No município de Cataguases, em Minas, o cineasta Humberto Mauro produziu “Os três irmãos” e “Na primavera da vida”, em parceria com o fotógrafo italiano Pedro Cornello. O paulista José Medina, após uma experiência com curtas metragens, realizou, em 1929, o clássico “Fragmentos da Vida”. Também em 1929 foi lançado o primeiro filme brasileiro totalmente sonorizado: Acabaram-se os otários, de Luiz de Barros, além de ter sido rodado no Rio o vanguardista “Limite”, de Mário Peixoto, que se baseou nas tendências européias da época.
Cena 3 – Os estúdios
Cinédia: este é o nome do primeiro estúdio de cinema do Brasil, instalado no Rio de Janeiro por Adhemar Gonzaga, no ano de 1930, e que levava ao público comédias musicais e dramas populares. Em 1934, Carmem Santos montou ainda a produtora carioca Brasil-Vita Filme, que contou com Humberto Mauro no seu quadro de cineastas. Em 1941, surgiu a Atlântida, filmando as inesquecíveis chanchadas (comédias muito populares, de custo baixo), que marcaram época. Filmes como Não Adianta Chorar, de Watson Macedo, e Nem Sansão Nem Dalila, de Carlos Manga, fizeram enorme sucesso.
No fim da década de 40, foi fundada a Vera Cruz, considerada na época a “Hollywood brasileira”. O estúdio foi instalado em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, por um grupo de empresários, que tinha à frente do projeto o italiano Franco Zampari e o cineasta pernambucano Alberto Cavalcanti, convidado para dirigir a empreitada. A intenção era rodar filmes bem ao estilo hollywoodiano. Técnicos de outros países, inclusive, vieram ao Brasil para trabalhar em algumas produções, como “Floradas na Serra”, de Luciano Salce, e “Tico-Tico no Fubá”, de Adolfo Celi. O filme “O Cangaceiro”, rodado em 1952 por Lima Barreto, conseguiu entrar no circuto internacional – foi premiado no Festival de Cannes em 1953 -, começando uma fase de histórias sobre o cangaço.
Cena 4 – Heróis solitários
O fim do sonho dos grandes estúdios deixou o bastão da arte cinematográfica brasileira nas mãos de diretores como Nélson Pereira dos Santos, de “Rio 40 graus”, Anselmo Duarte, de “O Pagador de promessas” e Walter Hugo Khouri, de “Noite Vazia”.
O comediante Amácio Mazzaropi, uma das estrelas da Vera Cruz, montou sua própria produtora, em 1963, e rodou filmes como “Casinha Pequenina”. Influenciou toda uma geração de humoristas, com seu jeito único de fazer graça e criando tipos caipiras como Jeca Tatu, sendo um fenômeno de bilheteria.
Nesse mesmo ano, também se destacou a produção de Glauber Rocha “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, além de “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade. No final da década de 60, Júlio Bressane lançou “Matou a Família e foi ao Cinema”, dentro da chamada estética marginal, que trata com deboche a situação social do país.
Cena 5 – Embrafilme: uma força
Com o surgimento da Embrafilme, em 1969, o governo passou a financiar o cinema brasileiro, além de se responsabilizar pela distribuição das fitas. Procurou dar, com essa iniciativa, a devida importância ao cinema nacional.
Em meados da década de 70, Renato Aragão, o Didi, iniciou uma carreira bem sucedida dos filmes de Os Trapalhões, protagonizando “Os trapalhões no Planeta dos Macacos”. Desta primeira fita até a última, “Simão – O Fantasma Trapalhão”, rodada em 1998, Renato Aragão detém o conjunto da maior bilheteria do cinema brasileiro.
Bruno Barreto também tem sua cota de maior bilheteria, ao alcançar 12 milhões de espectadores (de 1976 a 1998), com “Dona Flor e seus Dois Maridos”.
Em 1979, com o término da censura, a política e a realidade nacional foram mostradas por Cacá Diegues, em “Bye Bye Brasil” e, dois anos depois, por Roberto Faria, em “Pra frente Brasil”.
Na década de 80, filmes como “Marvada carne”, de André Klotzel, e “O homem da capa preta”, de Sérgio Resende – diretor que depois veio a lançar a superprodução “Mauá, o imperador e o rei” – ocuparam lugar de destaque no circuito nacional, não esquecendo o documentário “Jango”, de Sílvio Tendler.
Rico em produções, os anos 80 trouxeram ainda “Eles não usam black tie”, de Leon Hirszman, ganhador do Leão de Ouro em Veneza, em meio a outros filmes de repercussão internacional, como “Memórias do cárcere”, de Nélson Pereira dos Santos, “Pixote, a lei do mais fraco” e “O beijo da mulher aranha”, de Hector Babenco, “Parahyba mulher macho”, de Tizuka Yamazaki e “Eu sei que vou te amar”, de Arnaldo Jabor.
Cena 6 – Anos 90: morte e ressurreição
A década de 90 começou mal. O cinema nacional enfrentou dificuldades com os cortes do financiamento oficial e por pouco a Embrafilme não fechou. Foi um período de crise para a sétima arte brasileira que, até 1995, produziu quase nada. Em 1993, surgiu uma possibilidade de recuperação, com a nova lei de audiovisual. Foram filmados “Lamarca”, de Sérgio Resende, e “A terceira margem do rio”, de Nélson Pereira dos Santos.
A partir de 1995, era visível o aumento da produção. A atriz Carla Camuratti estreou como diretora no filme “Carlota Joaquina – princesa do Brazil” e alcançou 1,2 milhão de espectadores. Uma co-produção entre Brasil e Portugal também se destaca: “Terra estrangeira”, de Walter Salles Júnior e Daniela Thomas, além de uma produção conjunta entre Brasil e Estados Unidos no filme “Jenipapo”, de Monique Gardenberg.
Murilo Salles lançou, em 1996, “Como nascem os anjos”, e Fábio Barreto dirigiu “O quatrilho”, que estreou no mesmo ano. Walter Lima Júnior, por sua vez, obteve ótimos resultados visuais em “A ostra e o vento”.
Bruno Barreto lançaria no mesmo ano “O que é isso, companheiro?”, cabendo a Walter Salles Júnior a grande ressurreição do cinema nacional, ao filmar “Central do Brasil” (1998) que ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim.
Cena 7 – Dignos de um Oscar
“O Pagador de Promessas”, “O quatrilho”, “O que é isso companheiro?” e “Central do Brasil” foram os quatro filmes brasileiros indicados ao Oscar – a premiação máxima em cinema, oferecida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, Estados Unidos, na categoria Melhor Filme Estrangeiro.
“O pagador de promessas” – foi o primeiro filme brasileiro oficialmente indicado para melhor produção estrangeira, em 1962. Dirigido por Anselmo Duarte, conta a via crucis de um nordestino para pagar uma promessa, feita a Iansã, na igreja de Santa Bárbara, em Salvador, Bahia. Integram o elenco Glória Menezes, Leonardo Villar e Geraldo Del Rey.
“O quatrilho” – dirigido por Fábio Barreto e narra a saga de imigrantes italianos em terras brasileiras através da trajetória de dois casais, além do adultério que cometem, resultando na felicidade dos personagens envolvidos. O filme também é uma critica aos rígidos hábitos e costumes que os colonos importaram da distante Europa e com eles tentam se adaptar ao local que escolheram para viver. Produzido em 1995 e dirigido por Fábio Barreto, “O Quatrilho” é baseado no romance de José Clemente Pozenato e tem no elenco Glória Pires, Patrícia Pillar, Bruno Campos, Alexandre Paternost e Gianfrancesco Guarnieri.
“O que é isso companheiro?” – dirigido por Bruno Barreto, o filme foi lançado em 1996, e indicado em 1998. Baseia-se no livro de Fernando Gabeira e narra o plano de seqüestrar o embaixador dos Estados Unidos – Charles Elbrick – elaborado por militantes do grupo revolucionário MR-8, em troca de prisioneiros políticos que estavam sendo torturados na ditadura militar. No elenco, Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Luiz Fernando Guimarães, Cláudia Abreu e Pedro Cardoso.
“Central do Brasil” – com direção de Walter Salles Júnior, o filme foi lançado em 1998, e concorreu ao Oscar no ano seguinte. No mesmo ano, a atriz principal, Fernanda Montenegro, também é indicada ao prêmio na categoria de Melhor Atriz. “Central do Brasil” narra a história da personagem Dora, que escreve cartas para analfabetos na Central do Brasil e se vê obrigada a acolher o filho, de apenas 8 anos, de uma de suas clientes, atropelada por um ônibus. Ainda no elenco, Marília Pera, Vinícius de Oliveira e Othon Bastos.
“Cidade de Deus” – dirigido por Fernando Meirelles, foi lançado em 2002 e recebeu quatro indicações ao Oscar: Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Fotografia. Baseado no romance de Paulo Lins, o filme conta a história de um jovem pobre, negro e sensível, que cresce em um dos locais mais violentos da cidade. No entanto, torna-se fotógrafo profissional e, através das lentes de sua câmera, o espectador conhece o dia-a-dia da favela. No elenco, atores profissionais, como Matheus Nachtergaele, e garotos de diversas comunidades do Rio de Janeiro.
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