O fascismo não é um carimbo para ser colocado na testa de quem quer que seja mas é necessário entender suas características pois ele é atemporal, é cíclico e relacionado umbilicalmente às crises do capitalismo e ascensão das lutas populares nesses períodos de crises.
Por Altair Freitas*
Como todos sabem, o capitalismo vive uma crise prolongada, já chegando a uma década e sem soluções avançadas, progressistas, o caldo de cultura para a retomada do nazifascismo ganha muita força, especialmente na Europa. E no Brasil!
A base social do fascismo – independente do tempo e espaço – é composta por setores da classe média e segmentos das forças militares/policiais que enxergam na crise do capitalismo – e nas lutas populares – o risco de deixarem essa posição intermediária e, pior, de jamais se tornarem classe dominante. É dessa base social que brotam movimentos de extrema direita, propagadores do irracionalismo, de um patriotismo tosco, oco e chauvinista, da violência física, mentiras e difamações contra adversários políticos, da demagogia e hipocrisia, racismo e ódio contra a esquerda, em especial contra os comunistas. A depender da repercussão na sociedade, movimentos fascistas recebem apoio político de grandes grupos empresariais interessados em evitar a qualquer custo grandes transformações sociais a favor da massa trabalhadora. Aconteceu nos anos 20 e 30 na Europa, aconteceu aqui no passado e volta a ocorrer nos nossos dias.
O que vemos no Brasil dos últimos anos não é novo nem inédito por aqui. Tivemos dois grandes surtos fascistizantes: nos anos 30, a partir da criação da Ação Integralista Brasileira (AIB), dissolvida em 1938, e no início dos anos 60. O primeiro resultou na Ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-45). O segundo originou a Ditadura Militar (1964-85). Aonde vamos parar com essa nova onda fascistizante que assola o Brasil?
Nos últimos dias nossa atenção voltou-se para as manifestações violentas da extrema direita no sul do Brasil atingindo a caravana do ex-presidente Lula. Para quem fica espantado com o grau de reacionarismo de parte da população do Sul do Brasil, é bom saber que a maior seção do Partido Nazista fora da Alemanha nos anos 30 era lá, especialmente entre Santa Catarina e Paraná junto às colônias de imigrantes alemães que começaram a ocupar a região no final do século XIX O nazismo foi particularmente forte entre famílias de pequenos e médios agricultores ciosos da sacrossanta propriedade sobre a terra. Na Alemanha e aqui.
Depois da 2° Guerra houve um forte fluxo de criminosos nazistas rumo à América do Sul e para o Sul brasileiro aonde seguiram disseminando ódio e preconceitos de todo tipo. Parte razoável dos neonazistas do Sul de hoje é neta/bisneta desse tipo de gente. A ideologia nazifascista está impregnada em alguns setores da sociedade brasileira, mesmo que não se deem conta disso. Mas muitos não apenas se dão conta como se reafirmam como neonazistas.
Segundo uma pesquisa realizada em 2013 pela antropóloga Adriana Dias, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Santa Catarina tem cerca de quarenta e cinco mil neonazistas assumidos. Junto com Paraná e Rio Grande do Sul, são cerca de cem mil adeptos das ideias hitleristas. São Paulo tem cerca de trinta mil simpatizantes. Novamente, insisto, a grande concentração desse pensamento no Sul tem suas raízes fincadas muito forte na ação aberta dos agentes de Hitler nos anos 30 e de criminosos de guerra que trafegaram livremente no Cone-Sul, muitas vezes com apoio e proteção de governos latino-americanos. Vale a pena a leitura do livro “Nazistas entre nós – a trajetória de oficiais de Hitler depois da guerra” do historiador da USP Marcos Guterman.
Às forças democráticas e progressistas é imprescindível evitar qualquer tipo de subestimação sobre o crescimento do nazifascismo e suas manifestações cada dia mais abertas e ousadas. Evitar a subestimação e combater o bom combate da luta de ideias em todos os campos e lugares. Somar forças para vencer as batalhas políticas em curso para reposicionar o Brasil no rumo do desenvolvimento nacional, é fundamental para tirar o país da crise. Derrotar o governo golpista e seus aliados, revogar as reformas nefastas de Temer e impulsionar a industrialização para gerar crescimento econômico, emprego, renda e retomar a soberania nacional aviltada. A crise é o que alimenta o ódio, o preconceito e o neonazismo. O Brasil não merece ficar a mercê dessas forças.
*Altair Freitas é professor e secretário executivo da Escola Nacional de Formação do PCdoB.
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