Estamos assistindo, nos últimos 10 anos, ao crescimento vertiginoso do mercado cultural como setor capaz de apresentar um amplo e diversificado campo de atuação profissional e de intervenção propositiva nas sociedades contemporâneas. Segundo a última pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério da Cultura, a cultura já ocupa 3,7 milhões de trabalhadores, prevalecendo o nível de escolaridade mais elevado do que no mercado de trabalho em geral. O estudo demonstra a predominância na participação de profissionais no mercado cultural (46% do total) com 11 ou mais anos de estudo. Diante do contexto atual, constata-se a evidente necessidade de ampliação e aprofundamento do processo reflexivo e conceitual sobre a formação de gestores culturais. Temos que ter consciência e propostas para formar profissionais preparados para o auto-aprendizado, para a flexibilização de raciocínio, de modo que se tornem aptos a selecionar informações e com elas criar e abrir espaço para uma atuação pautada pelo profissionalismo no que se diz respeito à gestão pública e privada do setor cultural.
Esta não é uma tarefa fácil, e algumas iniciativas surgem com o objetivo de aprofundar tal discussão. É o caso da Rede Iberformat de Centros y Unidades de Formación en Gestión Cultural de Iberoamérica, uma iniciativa da Organização de Estados Iberoamericanos (OEI) e da Fundación Interarts, que surge com a finalidade de fomentar a reflexão sobre as estruturas e metodologias de formação em gestão cultural, ampliar o intercâmbio de idéias e experiências e criar condições para programas de cooperação nacional e internacional no que diz respeito à formação. Em novembro passado, no seminário Cultura e desenvolvimento entre o global e o local – Os desafios da Agenda 21 da Cultura, dentro da programação do Fórum Cultural Mundial, no Rio de Janeiro, aconteceu o encontro da Rede Iberformat no Brasil, cujo objetivo foi ampliar sua atuação em território nacional por meio da adesão de novos membros brasileiros à rede.
Um ponto que destacaria como resultado deste encontro, além da preocupação em ampliar o número de cursos para a formação do gestor cultural, pesquisas e bibliografia específica para este campo profissional, é a urgente necessidade de se discutir conceitualmente os variados desenhos curriculares de formação, formal ou informal, que têm se diversificado entre visões mais generalistas ou áreas específicas (patrimônio, economia, artes cênicas, música etc.). No Brasil, o aprofundamento deste debate ainda não teve sua devida atenção entre os setores públicos, no âmbito municipal, estadual e federal, nem tão pouco no âmbito acadêmico. Embora podemos perceber, nos últimos 10 anos, a crescente oferta de programas, cursos de pequena e média duração e especializações voltados para profissionais que atuam no meio cultural. O investimento em ações voltadas para a formação do gestor cultural ainda está em construção, onde a experiência prática do cotidiano de trabalho tem importância essencial na formação do gestor, é o lugar onde se tem gerado a formulação de conhecimentos necessários para se estruturar o próprio processo de formação atual dos gestores culturais. Para garantir a qualidade nos resultados de sua atuação profissional, o gestor cultural precisa dominar determinadas ferramentas e temas contemporâneos no ambiente de trabalho como planejamento estratégico, plano de sustentabilidade, cooperação, conhecimentos sobre as estruturas organizacionais no campo da cultura, fontes de financiamento, entre outros.
Precisamos de investimento real na formação dos profissionais de cultura, que tenha como fundamento uma visão organizadora e estratégica do setor, instigando a busca constante do conhecimento específico e da capacidade crítica e intelectual dos gestores, para que possam refletir, discutir, pesquisar e contribuir para a profissionalização do setor cultural como amplo mercado de trabalho capaz de absorver esta mão-de-obra qualificada. Por fim, é preciso aprofundar a discussão sobre os saberes e competências relativos ao desempenho dessa carreira profissional de forma legítima e atuante dentro dos quadros de funcionários do poder público, em departamentos específicos de empresas privadas, autônomos e empresários da cultura. Isso para buscar elementos formativos que levarão ao próprio reconhecimento do campo profissional da gestão cultural.
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Maria Helena Cunha